domingo, abril 10, 2005

Cartas para a Zara (carta 2)

AH...ESSA GRANDE FAMÍLIA

Olá Zara,
Sou eu outra vez !
Escrevo-te para te contar as últimas novidades daqui e olha que são muitas.
Começo pelo meio de locomoção .
Conforme te contei , e continuando a ter grandes dificuldades na adaptação ao voo, reuni com mais algumas almas e resolvemos apresentar ao Superior a seguinte proposta:
- Dado considerarmos que o meio de deslocação Aqui e agora vigente, se revela de total inutilidade uma vez que voar significa subir e onde estamos, já não podemos subir mais.
- Dado considerarmos as dificuldades de adaptação inerentes à prática destes voos, propomos a utilização de patins ( se em linha ou convencionais, ainda não decidimos) como meio de deslocação, por considerarmos ser mais fácilmente adaptável à maneira de andar que praticávamos aí em baixo.
Portanto Zara, se tal for aceite , esquece a asa delta e inicia-te na patinagem.
A propósito, àqueles que conheces que eventualmente consideres com possibilidades de virem para aqui , dá o conselho de virem já com os patins postos porque nos facilita muito a vida.
Isto Zara , não quer dizer que todos os que “patinam” para aqui venham, bem entendido!
Agora outro assunto.
A Hóstia gastronómica virou um sucesso e o próprio S. Pedro, de tanto comer, só numa semana engordou de tal maneira que caiu 3 vezes no Purgatório, deixando os que lá estão boqueabertos de espanto e a nós com o trabalhão de o voltar a trazer para cima.
Eu , por mero acaso, participei numa dessas recuperações e tive ocasião, por breves instantes, de observar como eles vivem no Andar de Baixo.
Houve um facto que me chamou particularmente à atenção . Vou-to contar:
Num dos cantos , está colocada uma placa que diz VIP e então observei que as almas aí colocadas se apresentavam com óptimo aspecto, percebes, como se fossem Almas ricas.
Mas todas estavam muito ocupadas com um trabalho que me pareceu de impossível realização.
Imagina tu o que era , Zara !
Eu conto.
Fazer passar Camelos por buracos de agulhas . Nem mais . Impossível , não achas ?
Bem a não ser que os ditos camelos, emagrecam de tal maneira que passem , mas as Bossas seriam sempre um problema .
Mais factos.
Encontrei no outro dia o nosso João Baptista, à beira de um ponto de água.
Dizem- me , que anda zangado com o S.Pedro, porque continua com a mania de baptizar toda a gente, e o S.Pedro diz-lhe :
Tá quieto João, estes já estão todos baptizados , não gastes a àgua.
Bom, o Santo anda chateado.
Eu para o consolar ainda lhe disse.
Ò João Manda àgua para a minha Terra , que eles estão com uma grande seca:
Mas ele então contou-me que , das duas vezes que o fez as coisas não correram bem.
Da primeira foi o Dilúvio (àgua a mais João, disse-lhe eu)
Da segunda, falhou o alvo e acertou no Inferno, provocando não só extinção do Fogo Redentor como quase um dia de descanso aos pecaminosos que por lá habitam.
Felizmente, que o nosso anjo Gabriel rapidamente normalizou a situação acendendo novamente as caldeiras no máximo torrando, outra vez, os que, por via da àgua , estavam a ficar só tostados.
Olha a propósito da nossa terra, chegou recentemente um português, acho que da zona Norte, e o engraçado é que já vinha dentro da caixa com os patins colocados (não percebo como soube), mas bom...... Então trouxe com ele alguns enchidos e pão caseiro, que tive ocasião de degustar . Ai que saudades Zara.
E o engraçado é que ele passa o tempo todo a rezar o Pai Nosso, com a seguinte versão:
Paio e Pão meu , que já estamos no Céu....a seguir é igual ...... e depois diz, por causa dos patins, ...... Não me deixeis cair..... e por aí adiante. Engraçado, não achas?
Olha funciona , porque até já patina bem.
Quem também encontrei por aqui foi um parente teu, um tal de Ovídio.
Imagina , já cá está há algum tempo, mas recusa-se a sair da caixa .
Diz ele :
Já lá em baixo ficava aqui quietinho, sinto-me aqui bem e daqui ninguém me tira. Nem com patins.
Ora pois. deixa-o ficar.
Bem Zara, por agora é tudo.
Uma vez que foram proibidos ressuscitados, por escassez de população e não estando prevista , que eu saiba, nenhuma Aparição, diz ao Carlinhos para pôr a mão de fora da próxima vez que por aqui passar, e pode ser que eu lhe consiga entregar a carta.

Lúcia