sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Evangelho do Dias 1 e 2 de Fevereiro

1 de Fevereiro

Livro de 2º Samuel 24,2.9-17.

Disse, pois, o rei a Joab, chefe do exército: «Percorre todas as tribos de Israel, de Dan a Bercheba, e faz o recenseamento do povo, de maneira que eu saiba o seu número.» Joab apresentou ao rei a soma do recenseamento do povo. Havia em Israel oitocentos mil homens de guerra, que manejavam a espada e, em Judá, quinhentos mil homens. Feito o recenseamento do povo, David sentiu remorsos e disse ao Senhor: «Cometi um grande pecado, ao fazer isto. Mas perdoa, Senhor, a culpa do teu servo, porque procedi como um insensato.» Pela manhã, quando David se levantou, o Senhor tinha falado ao profeta Gad, vidente de David, nestes termos: «Vai dizer a David: 'Eis o que diz o Senhor. Dou-te a escolher entre três coisas; escolhe uma das três e a executarei.'» Gad foi ter com David e referiu-lhe estas palavras, dizendo: «Que preferes: sete anos de fome sobre a terra, três meses a fugir diante dos inimigos que te perseguem, ou três dias de peste no teu país? Reflecte, pois, e vê o que devo responder a quem me enviou.» David respondeu a Gad: «Vejo-me em grande angústia. É melhor cair nas mãos do Senhor, cuja misericórdia é grande, do que cair nas mãos dos homens!» O Senhor enviou a peste a Israel, desde a manhã daquele dia até ao prazo marcado. Morreram setenta mil homens do povo, de Dan a Bercheba. O anjo estendeu a mão contra Jerusalém para a destruir. Mas o Senhor arrependeu-se desse mal e disse ao anjo que exterminava o povo: «Basta, retira a tua mão.» O anjo do Senhor estava junto à eira de Araúna, o jebuseu. Vendo o anjo que feria o povo, David disse ao Senhor: «Fui eu que pequei, eu é que tenho culpa! Mas estes, que são inocentes, que fizeram? Peço que descarregues a tua mão sobre mim e sobre a minha família!»

Livro de Salmos 32,1-2.5-7.

Feliz aquele a quem é perdoada a culpa e absolvido o pecado.
Feliz o homem a quem o SENHOR não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano.
Confessei-te o meu pecado e não escondi a minha culpa; disse: «Confessarei ao SENHOR a minha falta»; e Tu me perdoaste a culpa do pecado.
Por isso, todo o fiel te invoca no tempo da angústia. E, mesmo que transbordem águas caudalosas, jamais o hão-de atingir.
Tu és o meu refúgio: livras-me da angústia e me envolves em cânticos de libertação.


Evangelho segundo S. Marcos 6,1-6.

E partiu dali. Foi para a sua terra, e os discípulos seguiam-no. Chegado o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam: «De onde é que isto lhe vem e que sabedoria é esta que lhe foi dada? Como se operam tão grandes milagres por suas mãos? Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» E isto parecia-lhes escandaloso. Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa.» E não pôde fazer ali milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. Jesus percorria as aldeias vizinhas a ensinar.
Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI]
Einführung in das Christentum (A Fé Cristã)
"De onde é que isto lhe vem?": Cristo, o novo Adão


"Creio em Jesus Cristo, Filho unigénito de Deus, nosso Senhor" (Credo). A fé cristã reconhece em Jesus de Nazaré o homem exemplar - é essa, parece, a melhor forma de compreender a ideia de S. Paulo ao dizer que Cristo é "o último Adão" (1 Co 15,45). Mas é precisamente como homem exemplar, como homem tipo, que Jesus transcende o limite do humano; e é precisamente por isso que ele é verdadeiramente exemplar. Porque o homem é verdadeiramente ele mesmo na medida em que está perto de um outro; só se encontra a si mesmo abandonando-se; só se encontra a si mesmo através de alguém, de um outro... E, em última análise, o homem está orientado em direcção a... alguém que é verdadeiramente outro, a Deus... Ele é totalmente ele mesmo quando deixa de confiar só em si, de se virar sobre si mesmo, de se afirmar a si mesmo, isto é, quando é total abertura a Deus.

Mas, para que o homem se torne plenamente homem, foi preciso que Deus se tornasse homem. Só então... a passagem do "animal" para o "espiritual" (1 Co 15,44) é definitivamente atravessada; só então o ser de barro, elevando o seu olhar para além de si mesmo, pode dizer "Tu" a Deus. É esta abertura ao infinito que faz o homem... E esse é o homem pleno, o verdadeiro Adão, o mais ilimitado, o que não só entra em contacto com o Infinito mas forma um com ele: Jesus Cristo...

Se em Jesus a verdadeira essência do homem, tal como Deus a concebeu, se manifesta plenamente, ele não pode estar destinado a ser uma excepção absoluta, uma espécie de curiosidade... A sua existência diz respeito a toda a humanidade...; ele está destinado a reunir em si toda a raça humana. Ele deve "atrair a si" toda a humanidade (Jo 12,32) para formar o que S. Paulo chama "o Corpo de Cristo".


2 de Fevereiro

Livro de Malaquias 3,1-4.

«Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais, e o mensageiro da aliança, que vós desejais. Ei-lo que chega! –, diz o Senhor do universo. Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará, como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o Senhor os que apresentam a oferta legítima. Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor como nos dias antigos, como nos anos de outrora.

Livro de Salmos 24,7-10.

portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso.
Quem é esse rei glorioso? É o SENHOR, poderoso herói, o SENHOR, herói na batalha.
portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso.
Quem é Ele, esse rei glorioso? É o Senhor do universo! É Ele o rei glorioso.



Carta aos Hebreus 2,14-18.

Pois, tal como os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Ele partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão. Ele, de facto, não veio em auxílio dos anjos, mas veio em auxílio da descendência de Abraão. Por isso, Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que são postos à prova.


Evangelho segundo S. Lucas
2,22-40.

Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito. Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, porque meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.» Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. Simeão abençoou os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.» Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
PPS 2,10
"Os meus olhos viram a tua salvação"


"De repente, entrará no seu Templo o Senhor que vós procurais" (Ml 3,1). Hoje é-nos recordada a acção silenciosa da Providência de Deus. Acontecimentos que tinham sido previstos há muito inserem-se tranquilamente no curso do tempo; as visitas do Senhor permanecem simultaneammente repentinas e misteriosas...

Nesta cena, não há verdadeiramente nada de extraordinário nem de impressionante; no mundo, pessoas como os pais desta criança, tão pobres, e dois velhos como estes são olhados sem grande interesse e passa-se à frente. Contudo, o que temos aqui é a realização solene de uma profecia antiga e prodigiosa... A criança que se toma nos braços é o Salvador do mundo, o autêntico herdeiro que vem, sob a aparência de um desconhecido, visitar a sua própria casa. O profeta tinha dito: "Quem poderá suportar o dia da sua vinda?" (Ml 3,2); ei-lo que vem para tomar posse dela. Além disso, o velho Simeão está repleto dos dons do Espírito: alegria, acção de graças, esperança, misteriosamente misturadas com o temor, o susto e a dor. Também Ana se torna profetisa e as testemunhas a quem se dirige são o autêntico Israel que espera com fé a redenção do mundo de acordo com as promessas. "A glória que virá desse Templo ultrapassará a do antigo", tinha anunciado um outro profeta (Ag 2,9). Ei-la agora, essa glória: um menino com seus pais, dois velhos e uma assembleia sem nome e sem futuro. "A vinda do Reino não se deixa ver" (Lc 17,20).

Tal foi sempre a maneira de Deus fazer as suas visitas...: o silêncio, o inesperado, a surpresa aos olhos do mundo, apesar das predições conhecidas de todos, cujo sentido a Igreja verdadeira apreende e espera o cumprimento... Não pode ser de outra forma. Os avisos de Deus são claros mas o mundo continua o seu curso; envolvidos pelas suas actividades, os homens não sabem discernir o sentido da história. Tomam grandes acontecimentos por factos sem importância e medem o valor das realidades segundo uma perspectiva apenas humana... O mundo permanece cego, mas a Providência oculta de Deus realiza-se dia após dia.