Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; Depois, vem e segue-me.
Evangelho segundo S. Mateus 19,16-22.
Aproximou-se dele um jovem e disse-lhe: «Mestre, que hei-de fazer de bom, para alcançar a vida eterna?» Jesus respondeu-lhe: «Porque me interrogas sobre o que é bom? Bom é um só. Mas, se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos.» «Quais?» perguntou ele. Retorquiu Jesus: Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe; e ainda: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: «Tenho cumprido tudo isto; que me falta ainda?» Jesus respondeu: «Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» Ao ouvir isto, o jovem retirou-se contristado, porque possuía muitos bens.
Da Bíblia Sagrada
Comentário ao Evangelho do dia feito por :
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja
O Castelo Interior, Terceiras Moradas, cap. 1
“Se queres ser perfeito”
Ó Jesus! Haverá entre nós uma única que diga que não quer ir até ao fim? Certamente que ninguém o dirá. Todas nós garantimos que o queremos. Mas não basta dizê-lo, é preciso mais alguma coisa para que Deus seja o Senhor absoluto de uma alma. Prova disso é o jovem a quem Nosso Senhor perguntou se queria ser perfeito.
Entrai, entrai dentro de vós, minhas filhas, ultrapassai os vossos pequeninos actos de virtude. Como cristãs, estais obrigadas a tudo isso, e a muito mais. Contentando-vos em ser servas de Deus, não elevando as vossas pretensões tão alto, arriscais-vos a tudo perder. Pensai nos santos que entraram nos aposentos deste Rei (cf. Cant 1, 4) e vereis a que distância vos encontrais deles. Não peçais aquilo que não merecestes. Depois de termos ofendido a Deus como ofendemos, nem sequer deveria ocorrer-nos que poderemos jamais, sejam quais forem as nossas boas obras, merecer os favores concedidos aos santos. Humildade! Humildade! Sinto-me tentada a considerar que, se determinadas pessoas se afligem tanto com as suas securas, é porque lhes falta um pouco desta virtude. Experimentemo-nos, minhas irmãs, ou deixemos que Deus nos experimente. Ele bem sabe fazê-lo, embora nós nos recusemos frequentemente a compreendê-lo.
Se, no momento em que nos diz o que temos de fazer para sermos perfeitos, nós lhe voltarmos as costas e nos formos embora tristes, como o jovem do Evangelho, que quereis que Ele faça, Ele que tem de dar a recompensa segundo o amor que Lhe tivermos? Este amor não pode, minhas filhas, ser um fruto vão da imaginação, antes deve ser provado com obras. Mas não imagineis que Deus precisa das nossas obras; aquilo de que precisa é da determinação da nossa vontade. É indubitável: se perseverarmos neste despojamento e neste abandono de tudo, obteremos aquilo que desejamos. Mas com uma condição, compreendei-o bem: de que nos consideremos servos inúteis (cf. Lc 12, 48).
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