segunda-feira, junho 26, 2006

“Quem olha com doçura obterá misericórdia”




Evangelho segundo S. Mateus 7,1-5.

«Não julgueis, para não serdes julgados; pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos. Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não vês a trave que está na tua vista? Como ousas dizer ao teu irmão: 'Deixa-me tirar o argueiro da tua vista’, tendo tu uma trave na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás melhor para tirar o argueiro da vista do teu irmão.»

Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Doroteu de Gaza (c. 500-?), monge da Palestina
Carta 1




“Então verás claro”


Certas pessoas convertem em maus humores todos os alimentos que absorvem, mesmo que sejam alimentos de boa qualidade. A responsabilidade não é dos alimentos, mas do temperamento dessas pessoas, que altera os alimentos. Da mesma maneira, se a nossa alma tiver uma disposição má, tudo lhe fará mal; até as coisas vantajosas serão por ela transformadas em coisas prejudiciais. Não é verdade que, se deitarmos umas ervas amargas num pote de mel, as ervas alteram todo o conteúdo do pote, tornando amargo o mel? É isso que nós fazemos: espalhamos um pouco do nosso azedume e destruímos o bem do próximo, olhando para ele a partir da nossa má disposição.

Outras pessoas têm um temperamento que transforma tudo em bons humores, incluindo os alimentos nocivos. […] Os porcos têm uma excelente constituição. Comem cascas, caroços de tâmaras e lixo. Contudo, transformam estes alimentos em viandas suculentas. Também nós, se tivermos bons hábitos e um bom estado de alma, tudo poderemos aproveitar, incluindo aquilo que não é aproveitável. Muito bem diz o Livro dos Provérbios: “Quem olha com doçura obterá misericórdia” (12, 13). Mas também: “Todas as coisas são contrárias ao homem insensato” (14, 7).

Ouvi dizer de um irmão que, quando ia visitar outro irmão e encontrava a cela descuidada e desordenada, pensava: “Que feliz que é este irmão, que está completamente desprendido das coisas terrenas, elevando totalmente o seu espírito para o alto, de tal maneira que nem tem tempo para arrumar a cela!” Quando ia visitar outro irmão e encontrava a cela arrumada e em boa ordem, pensava: “A cela deste irmão está tão arrumada como a sua alma. Tal como a sua alma, assim é a sua cela.” E nunca dizia de nenhum deles: “Este é desordenado.” Ou: “Este é frívolo.” Graças ao seu excelente estado de alma, de tudo tirava proveito. Que Deus, na sua bondade, nos dê, também a nós, um estado bom para que possamos tudo aproveitar, sem nunca pensarmos mal do próximo. Se a nossa malícia nos inspirar juízos e suspeitas, transformemo-los rapidamente no pensamento. Pois não ver o mal do próximo engendra, com a ajuda de Deus, a bondade.