domingo, março 05, 2006

40 Dias...

Cardeal Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI)
Retiro pregado no Vaticano 1983



“Ele ficou quarenta dias no deserto”

Entrando no deserto, Jesus insere-se na história da salvação do seu povo, do povo eleito. Esta história começa depois da saída do Egipto, por uma peregrinação de quarenta anos no deserto. No centro destes quarenta anos colocam-se os dias do face a face com Deus: esses quarenta dias que Moisés passou na montanha, no jejum absoluto, longe do seu povo, na solidão da nuvem, no cume da montanha (Ex 24,18). É do meio destes dias que brota a fonte da Revelação. Nós reencontramos esta duração de quarenta dias na vida de Elias: perseguido pelo rei Achab, ele caminha quarenta dias no deserto, voltando assim ao ponto de origem da aliança, à voz de Deus, para uma nova etapa da história da salvação (1Rs 19,8).

Jesus entra nesta história. Ele revive as tentações do seu povo, as tentações de Moisés. Como Moisés, ele oferece a troca sagrada: ser apagado do livro da vida para salvar o seu povo (Ex 32,32). Assim Jesus será o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo; ele será o verdadeiro Moisés que está verdadeiramente “no seio do Pai” (Jo 1,18), face a face com ele para o revelar. Nos desertos do mundo, ele é verdadeiramente a fonte de água viva (Jo 7,38), ele que não se contenta em falar, mas que é ele próprio a palavra da vida: caminho, verdade e vida (Jo 14,6). Do alto da cruz, ele dá-nos uma nova aliança. Verdadeiro Moisés, ele entra pela sua ressurreição na terra prometida cujo acesso foi negado a Moisés e, pela chave da cruz, abre-nos a porta.