quarta-feira, novembro 08, 2006

“Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai”

Carta aos Filipenses 2,12-18.

Por isso, meus caríssimos, na mesma medida em que sempre fostes obedientes – não só como aconteceu na minha presença, mas agora com muito mais razão na minha ausência – trabalhai com temor e tremor pela vossa salvação. Pois é Deus quem, segundo o seu desígnio, opera em vós o querer e o agir. Fazei tudo sem murmurações nem discussões, para serdes irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem mancha, no meio de uma geração perversa e corrompida; nela brilhais como astros no mundo. Conservai a palavra da vida. Para mim será um motivo de glória para o dia de Cristo, por não ter corrido em vão nem me ter esforçado em vão. Mas alegro-me até mesmo se o meu sangue tiver de ser derramado em sacrifício e oferta pela vossa fé; sim, com todos vós me alegro. Do mesmo modo, alegrai-vos também vós; sim, alegrai-vos comigo.

Livro de Salmos 27,1.4.13-14.

SENHOR é minha luz e salvação: de quem terei medo? O SENHOR é o baluarte da minha vida: quem me assustará?
Uma só coisa peço ao SENHOR e ardentemente a desejo: é habitar na casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para saborear o seu encanto e ficar em vigília no seu templo.
Creio, firmemente, vir a contemplar a bondade do SENHOR, na terra dos vivos.
Confia no SENHOR! Sê forte e corajoso, e confia no SENHOR!


Evangelho segundo S. Lucas 14,25-33.

Seguiam com ele grandes multidões; e Jesus, voltando-se para elas, disse-lhes: «Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo. Quem dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a concluir? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos os que virem comecem a troçar dele, dizendo: 'Este homem começou a construir e não pôde acabar.' Ou qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro para examinar se lhe é possível com dez mil homens opor-se àquele que vem contra ele com vinte mil? Se não pode, estando o outro ainda longe, manda-lhe embaixadores a pedir a paz. Assim, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo.»

Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

João Cassiano (c. 360-435), fundador de convento em Marselha
Conferências 3, 6-7




Renunciar a todos os bens


Segundo a tradição dos Padres e a autoridade das Sagradas Escrituras, as renúncias são em número de três. […] A primeira diz respeito às coisas materiais; devemos desprezar as riquezas e todos os bens deste mundo. Pela segunda, repudiamos a nossa antiga maneira de viver, os vícios e as paixões da alma e da carne. Pela terceira, distanciamos o nosso espírito de todas as realidades presentes e visíveis, para contemplarmos apenas as realidades futuras e desejarmos apenas as realidades invisíveis. Estas renúncias devem ser observadas em conjunto, como o Senhor ordenou a Abraão quando lhe disse: “Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai” (Gn 12, 1).

“Deixa a tua terra” – isto é, as riquezas da terra –, disse em primeiro lugar. Em segundo lugar disse: “Deixa a tua família”, isto é, os hábitos e os vícios passados que, agregando-se a nós desde o dia em que nascemos, estão estreitamente unidos a nós por uma espécie de parentesco. E, em terceiro lugar, “Deixa a casa de teu pai”, quer dizer, todas as ligações a este mundo que se apresentam aos nossos olhos. […]

Contemplemos, como diz o Apóstolo Paulo, “não as coisas visíveis, mas as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 18) […]; “nós, porém, somos cidadãos do céu” (Fil 3, 20). […] Sairemos, pois, da casa do nosso antigo pai, daquele que era nosso pai segundo o homem velho, desde o dia em que nascemos, desde que “éramos por natureza filhos da ira, como os demais” (Ef 2, 3), e transferiremos toda a nossa atenção, todo o nosso espírito, para as coisas celestes. […] Então, a nossa alma elevar-se-á até ao mundo invisível, pela meditação constante das coisas de Deus e pela contemplação espiritual.