segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Deixai vir a mim as criançinhas!

Santa Teresa do Menino Jesus (1873-97), carmelita, doutora da Igreja
Manuscrito autobiográfico

"Deixai vir a mim as criancinhas"


Sabeis, ó minha Madre, como sempre desejei ser santa; mas, pobre de mim!, notei sempre, quando me comparei aos santos, que há, entre eles e eu, a mesma diferença que existe entre uma montanha cujo cimo se perde nos céus e o grão de areia pisado pelos pés dos transeuntes. Em vez de me desencorajar, disse para mim mesma: Deus não seria capaz de inspirar desejos irrealizáveis: portanto, apesar da minha pequenez, posso aspirar à santidade. Fazer-me crescer é impossível; tenho de me suportar tal como sou, com todas as minhas imperfeições. Mas quero procurar o meio para ir para o céu por um caminho pequeno, bem direito, bem curto, um caminhito totalmente novo.
Estamos num século de invenções; agora já nem é preciso subir os degraus de uma escada; na casa dos ricos, o elevador substitui-a com vantagem. O que eu queria era encontrar um ascensor que me elevasse até Jesus, porque sou muito pequena para subir a escada íngreme da perfeição. Então procurei nos Livros Sagrados a indicação do elevador, objecto do meu desejo; e li estas palavras saídas da boca da Sabedoria eterna: "Se alguém for muito pequeno, que venha até mim" (Pr 9,4).
E eu fui, adivinhando que tinha encontrado o que procurava. Querendo saber, ó meu Deus, o que faríeis vós ao pequenino que respondesse ao vosso apelo, continuei a minha procura e eis o que encontrei: "Tal como uma mãe acaricia o seu filho, assim eu vos consolarei; e pegar-vos-ei ao colo e embalar-vos-ei em cima dos meus joelhos" (Is 66,13). Ah! nunca palavras mais ternas, mais melodiosas tinham vindo alegrar a minha alma: o ascensor que me há-de elevar até ao céu, são os vossos braços, oh Jesus! Para isso, não preciso de crescer; pelo contrário, tenho de ficar pequena, de tornar-me cada vez mais pequena. Oh meu Deus, vós ultrapassastes toda a minha expectativa! Eu quero "cantar as vossas misericórdias"! (Sl 88,2 vulg)


Evangelho segundo S. Marcos 10,13-16.

Apresentaram-lhe uns pequeninos para que Ele os tocasse; mas os discípulos repreenderam os que os haviam trazido. Vendo isto, Jesus indignou-se e disse-lhes: «Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são como eles. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele.» Depois, tomou-os nos braços e abençoou-os, impondo-lhes as mãos.
Da Bíblia Sagrada

Palavra do Dia

Evangelho segundo S. Marcos 10,17-27.

Quando se punha a caminho, alguém correu para Ele e ajoelhou-se, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.» Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» Mas, ao ouvir tais palavras, ficou de semblante anuviado e retirou-se pesaroso, pois tinha muitos bens. Olhando em volta, Jesus disse aos discípulos: «Quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» Os discípulos ficaram espantados com as suas palavras. Mas Jesus prosseguiu: «Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.» Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode, então, salvar-se?» Fitando neles o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível.»

Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Leão XIII, Papa de 1878 a 1903
Encíclica Rerum Novarum,20



"Segue-me!"


Que os deserdados da sorte aprendam da Igreja que, segundo o julgamento do próprio Deus, a pobreza não é um opróbrio e que não é preciso corar por se ter de ganhar o pão pelo trabalho. É o que Jesus Cristo Nosso Senhor confirmou pelo Seu exemplo, ele que «sendo tão rico, se fez pobre» para salvação de todos os homens (2 Cor 8,9). Ele, o Filho de Deus e ele próprio Deus, quis passar aos olhos do mundo pelo filho de um operário; foi ao ponto de consumir uma grande parte da sua vida num trabalho remunerado. «Não é este o carpinteiro, o filho de Maria? (Mc 6,3)
Quem tenha sob o olhar o modelo divino compreenderá que a verdadeira dignidade do homem e a sua excelência residem nos seus costumes, quer dizer na sua virtude; a virtude é o património comum dos mortais, ao alcance de todos, pequenos e grandes, pobres e ricos; só a virtudes e os méritos, onde quer que se encontrem, obterão a recompensa da beatitude eterna. Mais, é para as classes desafortunadas que o coração de Deus parece inclinar-se mais. Jesus Cristo chama aos pobres bem-aventurados (Lc 6, 20); Ele convida com amor todos aqueles que sofrem e que choram a virem a Ele, para os consolar (Mt 11, 28); Ele beija com uma caridade mais terna os pequenos e os oprimidos. Estas doutrinas são certamente bem feitas para humilhar a alma altiva do rico e o tornar mais compassivo, para elevar a coragem dos que sofrem e lhes inspirar confiança.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Palavra do Dia

Carta de S. Tiago 5,9-12.

Não vos queixeis uns dos outros, irmãos, para não serdes julgados. Olhai que o Juiz já está à porta. Irmãos, tomai como modelos de sacrifício e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor. Vede como nós proclamamos bem-aventurados aqueles que sofreram com paciência; ouvistes falar da paciência de Job e vistes o resultado que o Senhor lhe concedeu; porque o Senhor é cheio de misericórdia e compassivo. Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo Céu, nem pela Terra, nem façais qualquer outro juramento. Que o vosso «sim» seja sim e que o vosso “não” seja não, para não incorrerdes em condenação.

Livro de Salmos 103,1-4.8-9.11-12.

Bendiz, ó minha alma, o SENHOR, e todo o meu ser louve o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o SENHOR, e não esqueças nenhum dos seus benefícios.
Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades.
Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e de ternura.
SENHOR é misericordioso e compassivo, é paciente e cheio de amor.
Não está sempre a repreender-nos, nem a sua ira dura para sempre.
Como é grande a distância dos céus à terra, assim são grandes os seus favores para os que o temem.
Como o Oriente está afastado do Ocidente, assim Ele afasta de nós os nossos pecados.



Evangelho segundo S. Marcos 10,1-12.

Saindo dali, foi para a região da Judeia, para além do Jordão. As multidões agruparam-se outra vez à volta dele, e outra vez as ensinava, como era seu costume. Aproximaram-se uns fariseus e perguntaram-lhe, para o experimentar, se era lícito ao marido divorciar-se da mulher. Ele respondeu-lhes: «Que vos ordenou Moisés?» Disseram: «Moisés mandou escrever um documento de repúdio e divorciar-se dela.» Jesus retorquiu: «Devido à dureza do vosso coração é que ele vos deixou esse preceito. Mas, desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.» De regresso a casa, de novo os discípulos o interrogaram acerca disto. Jesus disse: «Quem se divorciar da sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar do seu marido e casar com outro, comete adultério.»

Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Jacques de Saroug (cerca 449-521), monge e bispo sírio
Homília sobre o sexto dia



“Os dois serão uma só carne”


“Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, disse Deus (Gn 1,26). Uma simples ordem fez surgir os outros seres da criação: “Que se faça luz!” ou “Haja um firmamento!”. Desta vez, Deus não disse: “Que haja o homem”, mas disse: “Façamos o homem”. Com efeito, ele achava conveniente dar forma com as suas próprias mãos a esta imagem de si próprio, superior a todas as outras criaturas. Esta obra era-lhe particularmente próxima; ele tinha-lhe um grande amor... Adão é a imagem de Deus porque traz a efígie do Filho único...

Dum certo modo, Adão foi criado simultaneamente singelo e duplo; Eva encontrava-se escondida nele. Antes mesmo deles existirem, a humanidade estava destinada ao casamento, que os levaria, homem e mulher, a um só corpo, como no início. Nenhuma querela, nenhuma discórdia, se devia levantar entre eles. Teriam um mesmo pensamento, uma mesma vontade... O Senhor formou Adão do pó e da água; quanto a Eva, tirou-a da carne, dos ossos e do sangue de Adão (Gn 2,21). O profundo sono do primeiro homem antecipa os mistérios da crucifixão. A abertura do lado era o golpe de lança suportado pelo Filho único; o sono, a morte na cruz; o sangue e a água, a fecundidade do baptismo (Jo 19,34)... Mas a água e o sangue que correram do lado do Salvador são a origem do mundo do Espírito...
Adão não sofreu com a amputação feita na sua carne; o que lhe foi subtraído foi-lhe restituído, transfigurado pela beleza. O sopro do vento, o murmúrio das árvores, o canto dos pássaros chamava os noivos: “Levantai-vos, já dormistes o suficiente! A festa nupcial espera-vos!”... Adão viu Eva a seu lado, aquela que era a sua carne e os seus ossos, a sua filha, a sua irmã, a sua esposa. Levantaram-se, envoltos numa veste de luz, no dia que lhes sorria. Estavam no Paraíso.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Caminhos para a Vida Eterna

Este Caminho para a Conversão é o comentário ao Evangelho de hoje.
Por ser tão importante termos "umas dicas" para nos ajudar no Caminho para a Santidade, achei que o devia pôr em destaque.



Caminhos para entrar na vida eterna

Quereis que vos indique os caminhos da conversão? São numerosos, variados e diferentes, mas todos conduzem ao céu. O primeiro caminho da conversão é a condenação das nossas faltas. “Aviva a tua memória, entremos em juízo; fala para te justificares!” (Is 43,26). E é por isso que o profeta dizia: “Eu disse: «confessarei os meus erros ao Senhor» e Vós perdoastes a culpa do meu pecado” (Sl 31,5). Condena pois, tu próprio, as faltas que cometeste, e isso será suficiente para que o Senhor te atenda. Com efeito, aquele que condena as suas faltas, tem a vantagem de recear tornar a cair nelas...

Há um segundo caminho, não inferior ao referido, que é o de não guardar rancor aos nossos inimigos, de dominar a nossa cólera para perdoar as ofensas dos nossos companheiros, porque é assim que obteremos o perdão das que nós cometemos contra o Mestre; é a segunda maneira de obter a purificação das nossas faltas. “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós” (Mt 6,14).

Queres conhecer o terceiro caminho da conversão? É a oração fervorosa e perseverante que tu farás do fundo do coração... O quarto caminho, é a esmola; ela tem uma força considerável e indizível... Em seguida, a modéstia e a humildade não são meios inferiores para destruir os pecados pela raiz. Temos como prova disso o publicano que não podia proclamar as suas boas acções, mas que as substituiu todas pela oferta da sua humildade e entregou assim o pesado fardo das suas faltas (Lc 18,9s).
Acabamos de indicar cinco caminhos de conversão... Não fiques pois inactivo, mas em cada dia utiliza todos estes caminhos. São caminhos fáceis e tu não podes usar a tua miséria como desculpa.

S. João Crisóstomo (cerca 345-407), bispo de Antioquia e de Constantinopla, doutor da Igreja
Sermão sobre o diabo tentador

A Palavra do Dia

Carta de S. Tiago 5,1-6.

E agora vós, ó ricos, chorai em altos gritos por causa das desgraças que virão sobre vós. As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de testemunho contra vós e devorará a vossa carne como o fogo. Entesourastes, afinal, para os vossos últimos dias! Olhai que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos está a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo! Tendes vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos apetites… para o dia da matança! Condenastes e destes a morte ao inocente, e Deus não vai opor-se?

Livro de Salmos 49,14-20.

Esta é a sorte dos que confiam em si mesmos, o fim dos que se comprazem nas suas palavras:
como um rebanho, caminham para o sepulcro, e a morte será o seu pastor; no dia seguinte, os justos passam-lhes por cima e a sua imagem vai-se desvanecendo; o sepulcro será a sua morada permanente.
Mas Deus há-de resgatar a minha vida, há-de arrancar-me ao poder da morte.
Não te preocupes, se alguém enriquece, se aumenta a fortuna da sua casa.
Quando morrer, nada levará consigo; a sua fortuna não há-de acompanhá-lo.
Ainda que em vida o tenham lisonjeado: «Serás famoso, porque és um homem rico»,
há-de juntar-se na morte aos antepassados, que jamais verão a luz.



Evangelho segundo S. Marcos 9,41-50.

Sim, seja quem for que vos der a beber um copo de água por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.» «E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar. Se a tua mão é para ti ocasião de queda, corta-a; mais vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos, ires para a Geena, para o fogo que não se apaga, onde o verme não morre e o fogo não se apaga. Se o teu pé é para ti ocasião de queda, corta-o; mais vale entrares coxo na vida, do que, com os dois pés, seres lançado à Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de queda, arranca-o; mais vale entrares com um só no Reino de Deus, do que, com os dois olhos, seres lançado à Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga. Todos serão salgados com fogo. O sal é coisa boa; mas, se o sal ficar insosso, com que haveis de o temperar? Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.»

Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

S. João Crisóstomo (cerca 345-407), bispo de Antioquia e de Constantinopla, doutor da Igreja
Sermão sobre o diabo tentador



Caminhos para entrar na vida eterna


Quereis que vos indique os caminhos da conversão? São numerosos, variados e diferentes, mas todos conduzem ao céu. O primeiro caminho da conversão é a condenação das nossas faltas. “Aviva a tua memória, entremos em juízo; fala para te justificares!” (Is 43,26). E é por isso que o profeta dizia: “Eu disse: «confessarei os meus erros ao Senhor» e Vós perdoastes a culpa do meu pecado” (Sl 31,5). Condena pois, tu próprio, as faltas que cometeste, e isso será suficiente para que o Senhor te atenda. Com efeito, aquele que condena as suas faltas, tem a vantagem de recear tornar a cair nelas...

Há um segundo caminho, não inferior ao referido, que é o de não guardar rancor aos nossos inimigos, de dominar a nossa cólera para perdoar as ofensas dos nossos companheiros, porque é assim que obteremos o perdão das que nós cometemos contra o Mestre; é a segunda maneira de obter a purificação das nossas faltas. “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós” (Mt 6,14).

Queres conhecer o terceiro caminho da conversão? É a oração fervorosa e perseverante que tu farás do fundo do coração... O quarto caminho, é a esmola; ela tem uma força considerável e indizível... Em seguida, a modéstia e a humildade não são meios inferiores para destruir os pecados pela raiz. Temos como prova disso o publicano que não podia proclamar as suas boas acções, mas que as substituiu todas pela oferta da sua humildade e entregou assim o pesado fardo das suas faltas (Lc 18,9s).
Acabamos de indicar cinco caminhos de conversão... Não fiques pois inactivo, mas em cada dia utiliza todos estes caminhos. São caminhos fáceis e tu não podes usar a tua miséria como desculpa.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Evangelho do Dia

Evangelho segundo S. Mateus 16,13-19.

Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.»

Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona ( Norte de Áfica) e doutor da Igreja
Sermão 190



«Chamar-te-ás Pedro» (Jo 1,42)


«Tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja». Este nome de Pedro foi-lhe dado porque foi ele o primeiro a assentar entre as nações os fundamentos da fé e porque ele é o rochedo indestrutível sobre o qual repousam os alicerces e o conjunto do edifício de Jesus Cristo. Foi pela sua fidelidade que ele se chamou Pedro, enquanto que o Senhor recebe esse mesmo nome pelo poder, segundo a palavra de S. Paulo: «Eles bebiam água da pedra espiritual que os seguia, e essa pedra é Jesus Cristo» (1 Cor 10,4). Sim, ele merecia partilhar um mesmo nome com Cristo, o apóstolo escolhido para ser o cooperador da Sua obra, Construíram o mesmo edifício. É Pedro que planta, é o Senhor que faz crescer, é o Senhor que também envia aqueles que deverão regar (cf 1 Cor 3,6s).
Vós sabeis, irmãos muito amados, foi a partir dos próprios erros, no momento em que sofria o Salvador, que o bem-aventurado Pedro foi elevado. Foi depois de ter negado o Senhor, que se tornou o primeiro junto dEle. Mais fiel chorando sobre a fé que traíra, recebeu uma graça ainda maior do que aquela que tinha perdido. Cristo confiou-lhe o Seu rebanho para que o conduzisse como o bom pastor e, ele que tinha sido tão fraco, tornava-se agora o sustentáculo de tudo. Ele, que interrogado acerca da sua fé sucumbira, tinha de estabelecer os outros sobre os fundamentos inabaláveis da fé. Por isso é chamado a pedra fundamental da devoção das igrejas.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Evangelho do Dia

Carta de S. Tiago 1,19-27.

Bem o sabeis, meus amados irmãos: cada um seja pronto para ouvir, lento para falar e lento para se irar, pois uma pessoa irada não faz o que é justo aos olhos de Deus. Rejeitai, pois, toda a imundície e todo o vestígio de malícia e recebei com mansidão a Palavra em vós semeada, a qual pode salvar as vossas almas. Mas tendes de a pôr em prática e não apenas ouvi-la, enganando-vos a vós mesmos. Porque, quem se contenta com ouvir a palavra, sem a pôr em prática, assemelha-se a alguém que contempla a sua fisionomia num espelho; mal acaba de se contemplar, sai dali e esquece-se de como era. Aquele, porém, que medita com atenção a lei perfeita, a lei da liberdade, e nela persevera – não como quem a ouve e logo se esquece, mas como quem a cumpre – esse encontrará a felicidade ao pô-la em prática. Se alguém se considera uma pessoa piedosa, mas não refreia a sua língua, enganando assim o seu coração, a sua religião é vazia. A religião pura e sem mácula diante daquele que é Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo.

Livro de Salmos 15,2-5.

Aquele que leva uma vida sem mancha, pratica a justiça e diz a verdade com todo o coração;
aquele cuja língua não levanta calúnias e não faz mal ao seu próximo, nem causa prejuízo a ninguém;
aquele que despreza o que é desprezível, mas estima os que temem o SENHOR; aquele que não falta ao juramento, mesmo em seu prejuízo;
aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, nem se deixa subornar contra o inocente. Quem assim proceder não há-de sucumbir para sempre.


Evangelho segundo S. Marcos 8,22-26.

Chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse. Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?» Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.» Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez. Jesus mandou-o para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»
Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :
S. Gregório de Nissa (cerca de 335 - 395), monge e bispo
Homilias sobre as Bem-aventuranças



"Verão a Deus"


A impressão que se tem quando lançamos os olhos sobre a imensidão do mar é a mesmo que o meu espírito experimenta quando, do alto das palavras escarpadas do Senhor, tal como do cimo de uma falésia, eu contemplo o seu abismo infinito. A minha alma experimenta a vertigem diante desta palavra do Senhor: "Felizes os que têm o coração puro, porque verão a Deus" (Mt 5,8). Deus oferece-se ao olhar dos que têm o coração puro. Ora "nunca ninguém viu Deus" (Jo 1,18), diz S. João. E S. Paulo confirma esta ideia ao falar daquele que "nenhum de entre os homens viu nem pode ver" (1 Tm 6,16). Deus é aquele rochedo abrupto e aguçado, que não oferece a menor hipótese à nossa imaginação. Também Moisés lhe chamava o Inacessível: "Ninguém, diz ele, pode ver o Senhor e viver" (Ex 33,20). Mas como então? A vida eterna é a visão de Deus e estes pilares da nossa fé certificam-nos que ela é impossível?! Que abismo!... Se Deus é a vida, aquele que o não vê também não vê a vida...
Ora o Senhor estimula a nossa esperança. Não deu ele uma prova disso em relação a Pedro? Debaixo dos pés desse discípulo que quase se afogava, ele firmou e endureceu as ondas do mar (Mt 4,30). Será que a mão do Verbo se estenderá também sobre nós, que somos submergidos nestes abismos, será que ela nos tornará firmes? Podemos então confiar, porque seremos firmemente dirigidos pela mão do Verbo.
"Felizes os que têm o coração puro, porque verão a Deus". Uma tal promessa ultrapassa as nossas maiores alegrias; depois dessa felicidade que outra poderíamos desejar?... Aquele que vê a Deus possui, com esta visão, todos os bens imagináveis: uma vida sem fim, uma incorruptibilidade perpétua, uma alegria inesgotável, um poder invencível, delícias eternas, uma luz verdadeira, as suaves palavras do espírito, uma glória incomparável, um júbilo jamais interrompido, todos os bens, enfim. Que grandes e belas esperanças nos oferece pois esta bem-aventurança!

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Evangelho do Dia

Livro de Eclesiástico 47,2-11.

Assim como a gordura da vítima se separa da carne, assim David foi separado dentre os filhos de Israel. Brincou com os leões, como se fossem cabritos, e tratou os ursos como cordeirinhos. Não foi ele quem, na sua mocidade, matou o gigante e tirou o opróbrio do seu povo, levantando a mão, com a pedra da sua funda e abatendo a arrogância de Golias? Invocou, na realidade, o Senhor Altíssimo, o qual deu à sua dextra força para derrubar o temível guerreiro e, assim, exaltar o poder do seu povo. Também foi celebrado por causa da morte dos dez mil homens; tornou-se ilustre com as bênçãos do Senhor e foi-lhe oferecida uma coroa de glória. Porque desbaratou os inimigos de todas as partes e exterminou os filisteus, seus adversários, destruindo, até ao dia de hoje, o seu poder. Em todas as suas obras, deu graças ao Santo, ao Altíssimo com palavras de louvor. Com todo o seu coração cantou hinos e amou aquele que o tinha criado. Estabeleceu cantores diante do altar entoando, com as suas vozes, doces melodias, dia a dia louvando-o com os seus cantos. Deu esplendor às festividades , brilho perfeito aos dias solenes, para que louvassem o santo nome do Senhor e fizessem ressoar o santuário desde a aurora. O Senhor perdoou-lhe os seus pecados, engrandeceu o seu poder para sempre e assegurou-lhe, por sua aliança, a realeza e um trono de glória em Israel.

Livro de Salmos 18,31.47.50-51.

Os caminhos de Deus são perfeitos; a palavra do SENHOR é provada no fogo. Ele protege os que nele confiam.
Viva o SENHOR! Bendito seja o meu protector! Glorificado seja o Deus que é a minha salvação!
Por isso, eu te louvarei, SENHOR, entre os povos e cantarei hinos ao teu nome.
Deus dá grandes vitórias ao seu rei e usa de bondade com o seu ungido, com David e seus descendentes para sempre.



Evangelho segundo S. Marcos 6,14-29.

O rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: «Este é João Baptista, que ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer milagres»; outros diziam: «É Elias»; outros afirmavam: «É um profeta como um dos outros profetas.» Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: «É João, a quem eu degolei, que ressuscitou.» Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão.» Herodíade tinha-lhe rancor e queria dar-lhe a morte, mas não podia, porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia. Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei.» E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino.» Ela saiu e perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?» A mãe respondeu: «A cabeça de João Baptista.» Voltando a entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: «Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Baptista.» O rei ficou desolado; mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. Sem demora, mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e decapitou-o na prisão; depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à jovem, que a deu à mãe. Tendo conhecimento disto, os discípulos de João foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro.

Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Concílio Vaticano II
Declaração sobre a liberdade religiosa, 11
Testemunhas da verdade


Cristo deu testemunho da verdade, mas não a quis impor pela força aos seus contraditores. O seu reino não se defende pela violência mas implanta-se pelo testemunho e pela audição da verdade; e cresce pelo amor com que Cristo, elevado na cruz, a Si atrai todos os homens.

Os Apóstolos, ensinados pela palavra e exemplo de Cristo, seguiram o mesmo caminho. Desde os começos da Igreja, os discípulos de Cristo esforçaram-se por converter os homens a Cristo Senhor, não com a coacção ou com artifícios indignos do Evangelho, mas primeiro que tudo com a força da palavra de Deus. A todos anunciavam com fortaleza a vontade de Deus Salvador «o qual quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade» (1 Tim. 2, 4); ao mesmo tempo, respeitavam os fracos, mesmo que estivessem no erro, mostrando assim como «cada um de nós dará conta de si a Deus» (Rom. 14, 12) e, nessa medida, tem obrigação de obedecer à própria consciência. Como Cristo, os Apóstolos sempre se dedicaram a dar testemunho da verdade de Deus, ousando proclamar diante do povo e dos chefes «com desassombro, a palavra de Deus» (Act. 4, 31). Pois acreditavam firmemente que o Evangelho é a força de Deus, para salvação de todo o que acredita. E assim é que, desprezando todas as «armas carnais», seguindo o exemplo de mansidão e humildade de Cristo, pregaram a palavra de Deus com plena confiança na sua força para destruir os poderes opostos a Deus e para trazer os homens à fé e obediência a Cristo. Como o Mestre, também os Apóstolos reconheceram a legítima autoridade civil: «Não há nenhum poder que não venha de Deus», ensina o Apóstolo, que depois manda: «cada um se submeta às autoridades constituídas; ...quem resiste à autoridade, rebela-se contra a ordem estabelecida por Deus» (Rom. 13, 1-2). Ao mesmo tempo, não temeram contradizer o poder público que se opunha à vontade sagrada de Deus: «deve-se obedecer antes a Deus do que aos homens» (Act. 5, 29). Inúmeros mártires e fiéis seguiram, no decorrer dos séculos e por toda a terra, este mesmo caminho.


[Referências bíblicas: Mt 26,51s ; Jo 12,32 ; 1Tm 2,4 ; Rm 14,12 ; Rm 1,16 ; 2Co 10,4 ; Rm 13,15 ; Ac 5,29]

As Leituras dos dias 1 e 2 de Fevereiro estão no post abaixo.

Evangelho do Dias 1 e 2 de Fevereiro

1 de Fevereiro

Livro de 2º Samuel 24,2.9-17.

Disse, pois, o rei a Joab, chefe do exército: «Percorre todas as tribos de Israel, de Dan a Bercheba, e faz o recenseamento do povo, de maneira que eu saiba o seu número.» Joab apresentou ao rei a soma do recenseamento do povo. Havia em Israel oitocentos mil homens de guerra, que manejavam a espada e, em Judá, quinhentos mil homens. Feito o recenseamento do povo, David sentiu remorsos e disse ao Senhor: «Cometi um grande pecado, ao fazer isto. Mas perdoa, Senhor, a culpa do teu servo, porque procedi como um insensato.» Pela manhã, quando David se levantou, o Senhor tinha falado ao profeta Gad, vidente de David, nestes termos: «Vai dizer a David: 'Eis o que diz o Senhor. Dou-te a escolher entre três coisas; escolhe uma das três e a executarei.'» Gad foi ter com David e referiu-lhe estas palavras, dizendo: «Que preferes: sete anos de fome sobre a terra, três meses a fugir diante dos inimigos que te perseguem, ou três dias de peste no teu país? Reflecte, pois, e vê o que devo responder a quem me enviou.» David respondeu a Gad: «Vejo-me em grande angústia. É melhor cair nas mãos do Senhor, cuja misericórdia é grande, do que cair nas mãos dos homens!» O Senhor enviou a peste a Israel, desde a manhã daquele dia até ao prazo marcado. Morreram setenta mil homens do povo, de Dan a Bercheba. O anjo estendeu a mão contra Jerusalém para a destruir. Mas o Senhor arrependeu-se desse mal e disse ao anjo que exterminava o povo: «Basta, retira a tua mão.» O anjo do Senhor estava junto à eira de Araúna, o jebuseu. Vendo o anjo que feria o povo, David disse ao Senhor: «Fui eu que pequei, eu é que tenho culpa! Mas estes, que são inocentes, que fizeram? Peço que descarregues a tua mão sobre mim e sobre a minha família!»

Livro de Salmos 32,1-2.5-7.

Feliz aquele a quem é perdoada a culpa e absolvido o pecado.
Feliz o homem a quem o SENHOR não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano.
Confessei-te o meu pecado e não escondi a minha culpa; disse: «Confessarei ao SENHOR a minha falta»; e Tu me perdoaste a culpa do pecado.
Por isso, todo o fiel te invoca no tempo da angústia. E, mesmo que transbordem águas caudalosas, jamais o hão-de atingir.
Tu és o meu refúgio: livras-me da angústia e me envolves em cânticos de libertação.


Evangelho segundo S. Marcos 6,1-6.

E partiu dali. Foi para a sua terra, e os discípulos seguiam-no. Chegado o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam: «De onde é que isto lhe vem e que sabedoria é esta que lhe foi dada? Como se operam tão grandes milagres por suas mãos? Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» E isto parecia-lhes escandaloso. Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa.» E não pôde fazer ali milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. Jesus percorria as aldeias vizinhas a ensinar.
Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI]
Einführung in das Christentum (A Fé Cristã)
"De onde é que isto lhe vem?": Cristo, o novo Adão


"Creio em Jesus Cristo, Filho unigénito de Deus, nosso Senhor" (Credo). A fé cristã reconhece em Jesus de Nazaré o homem exemplar - é essa, parece, a melhor forma de compreender a ideia de S. Paulo ao dizer que Cristo é "o último Adão" (1 Co 15,45). Mas é precisamente como homem exemplar, como homem tipo, que Jesus transcende o limite do humano; e é precisamente por isso que ele é verdadeiramente exemplar. Porque o homem é verdadeiramente ele mesmo na medida em que está perto de um outro; só se encontra a si mesmo abandonando-se; só se encontra a si mesmo através de alguém, de um outro... E, em última análise, o homem está orientado em direcção a... alguém que é verdadeiramente outro, a Deus... Ele é totalmente ele mesmo quando deixa de confiar só em si, de se virar sobre si mesmo, de se afirmar a si mesmo, isto é, quando é total abertura a Deus.

Mas, para que o homem se torne plenamente homem, foi preciso que Deus se tornasse homem. Só então... a passagem do "animal" para o "espiritual" (1 Co 15,44) é definitivamente atravessada; só então o ser de barro, elevando o seu olhar para além de si mesmo, pode dizer "Tu" a Deus. É esta abertura ao infinito que faz o homem... E esse é o homem pleno, o verdadeiro Adão, o mais ilimitado, o que não só entra em contacto com o Infinito mas forma um com ele: Jesus Cristo...

Se em Jesus a verdadeira essência do homem, tal como Deus a concebeu, se manifesta plenamente, ele não pode estar destinado a ser uma excepção absoluta, uma espécie de curiosidade... A sua existência diz respeito a toda a humanidade...; ele está destinado a reunir em si toda a raça humana. Ele deve "atrair a si" toda a humanidade (Jo 12,32) para formar o que S. Paulo chama "o Corpo de Cristo".


2 de Fevereiro

Livro de Malaquias 3,1-4.

«Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais, e o mensageiro da aliança, que vós desejais. Ei-lo que chega! –, diz o Senhor do universo. Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará, como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o Senhor os que apresentam a oferta legítima. Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor como nos dias antigos, como nos anos de outrora.

Livro de Salmos 24,7-10.

portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso.
Quem é esse rei glorioso? É o SENHOR, poderoso herói, o SENHOR, herói na batalha.
portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso.
Quem é Ele, esse rei glorioso? É o Senhor do universo! É Ele o rei glorioso.



Carta aos Hebreus 2,14-18.

Pois, tal como os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Ele partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão. Ele, de facto, não veio em auxílio dos anjos, mas veio em auxílio da descendência de Abraão. Por isso, Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que são postos à prova.


Evangelho segundo S. Lucas
2,22-40.

Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito. Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, porque meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.» Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. Simeão abençoou os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.» Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

Da Bíblia Sagrada



Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
PPS 2,10
"Os meus olhos viram a tua salvação"


"De repente, entrará no seu Templo o Senhor que vós procurais" (Ml 3,1). Hoje é-nos recordada a acção silenciosa da Providência de Deus. Acontecimentos que tinham sido previstos há muito inserem-se tranquilamente no curso do tempo; as visitas do Senhor permanecem simultaneammente repentinas e misteriosas...

Nesta cena, não há verdadeiramente nada de extraordinário nem de impressionante; no mundo, pessoas como os pais desta criança, tão pobres, e dois velhos como estes são olhados sem grande interesse e passa-se à frente. Contudo, o que temos aqui é a realização solene de uma profecia antiga e prodigiosa... A criança que se toma nos braços é o Salvador do mundo, o autêntico herdeiro que vem, sob a aparência de um desconhecido, visitar a sua própria casa. O profeta tinha dito: "Quem poderá suportar o dia da sua vinda?" (Ml 3,2); ei-lo que vem para tomar posse dela. Além disso, o velho Simeão está repleto dos dons do Espírito: alegria, acção de graças, esperança, misteriosamente misturadas com o temor, o susto e a dor. Também Ana se torna profetisa e as testemunhas a quem se dirige são o autêntico Israel que espera com fé a redenção do mundo de acordo com as promessas. "A glória que virá desse Templo ultrapassará a do antigo", tinha anunciado um outro profeta (Ag 2,9). Ei-la agora, essa glória: um menino com seus pais, dois velhos e uma assembleia sem nome e sem futuro. "A vinda do Reino não se deixa ver" (Lc 17,20).

Tal foi sempre a maneira de Deus fazer as suas visitas...: o silêncio, o inesperado, a surpresa aos olhos do mundo, apesar das predições conhecidas de todos, cujo sentido a Igreja verdadeira apreende e espera o cumprimento... Não pode ser de outra forma. Os avisos de Deus são claros mas o mundo continua o seu curso; envolvidos pelas suas actividades, os homens não sabem discernir o sentido da história. Tomam grandes acontecimentos por factos sem importância e medem o valor das realidades segundo uma perspectiva apenas humana... O mundo permanece cego, mas a Providência oculta de Deus realiza-se dia após dia.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Para Meditar!!!

"(…) saiu rumo a um lugar deserto. Lá, ele orava." - (Mc 1,35)

Que dia intenso Jesus viveu naquele sábado, na cidade de Cafarnaum! Tinha falado na sinagoga, deixando todos admirados com o seu ensinamento. Tinha libertado um homem possuído por um espírito imundo. Saindo da sinagoga, foi à casa de Simão Pedro e de André, e lá curou a sogra de Pedro. À tardinha, depois do pôr-do-sol, trouxeram-lhe todos os doentes e os que tinham demônios e Ele curou muitos dos que sofriam de diversas enfermidades e expulsou muitos demônios.Depois de um dia e uma noite tão intensos, pela manhã, quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e"(…) saiu rumo a um lugar deserto. Lá, ele orava."

Era a saudade do Céu. Foi de lá que Ele veio ao mundo para nos revelar o amor de Deus, para nos abrir o caminho do Céu, para compartilhar a nossa vida em tudo. Ele tinha percorrido os caminhos da Palestina ensinando as multidões, curando todo tipo de doença e de enfermidade, instruindo os seus discípulos. Mas a seiva vital, que jorrava como água viva do seu íntimo, era fruto do seu relacionamento constante com o Pai. Ele e o Pai se conhecem, se amam, estão um no outro, são uma só coisa.O Pai é o “Abbá”, ou seja, o papai, o paizinho a quem Ele podia dirigir-se carinhosamente com infinita confidência e ilimitado amor."(…) saiu rumo a um lugar deserto. Lá, ele orava."

Uma vez que o Filho de Deus veio à terra por nós, não se deu por satisfeito de estar sozinho nessa condição privilegiada de oração. Redimindo-nos com a sua morte, nos tornou filhos de Deus, nos fez seus irmãos.Assim, também para nós se tornou possível fazer aquela sua divina invocação – “Abbá, Pai” –, com tudo o que ela comporta: certeza de sua proteção, segurança, abandono cego no seu amor, consolações divinas, força, ardor; ardor que nasce no coração de quem tem a certeza de ser amado…E, depois que entramos no silêncio da “cela interior” da nossa alma, podemos falar com Ele, adorá-lo, externar-lhe o nosso amor, agradecer-lhe, pedir-lhe perdão, confiar-lhe as necessidades nossas e de toda a humanidade, bem como os nossos sonhos e desejos… O que é que não se pode dizer a alguém que – temos a absoluta certeza – nos ama imensamente e é onipotente?E podemos falar com o Verbo, com Jesus. Sobretudo podemos escutá-lo, deixar que Ele nos repita as suas palavras: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”, “Eis que estou convosco todos os dias”; os seus convites: “Vem e segue-me”, “Perdoa setenta vezes sete vezes”, “Faze ao outro aquilo que gostarias fosse feito a ti”.Podem ser momentos prolongados, ou até mesmo instantes breves e freqüentes no decorrer do dia todo, como que um olhar de amor, um sussurrar-lhe: “És tu o meu único bem”, “Por ti ofereço esta minha ação”. Não podemos prescindir da oração. Assim como não podemos viver sem respirar, também não podemos viver sem orar, pois a oração é o respiro da alma, a expressão do nosso amor a Deus. Sairemos revigorados desse diálogo, desse relacionamento de comunhão e de amor, prontos para enfrentar, com nova intensidade e confiança, a vida de cada dia. Teremos também um relacionamento mais verdadeiro com os outros e com as coisas."(…) saiu rumo a um lugar deserto. Lá, ele orava."

Se não fechamos as cortinas da alma com o recolhimento, Senhor, não podes entreter-te conosco como o teu amor às vezes gostaria. Mas, uma vez desprendidos de tudo para nos recolhermos em ti, não voltaríamos mais para trás, tão suave é para a alma a união contigo e caduco tudo o mais.Aqueles que te amam com sinceridade, freqüentemente te ouvem, Senhor, no silêncio do seu quarto, no fundo do seu coração; e essa sensação comove a alma como se toda vez atingisse o seu âmago. E te agradecem por essa tua proximidade, por esse Tudo que és: Aquele que dá sentido ao viver e ao morrer.E te agradecem, mas muitas vezes não sabem como fazê-lo, nem dizê-lo. Sabem apenas que são amados por ti e te amam, que não existe nada tão suave aqui na terra que nem de longe se possa assemelhar. O que sentem na alma, quando Tu apareces, é Céu e “se o Céu é assim”, dizem, “oh! como é bonito!”.Agradecem-te, Senhor, pela vida inteira, porque os conduziste até aqui. Se lá fora ainda existem sombras que poderiam ofuscar o seu paraíso antecipado, quando te manifestas, tudo se torna remoto e distante: não existe.Tu existes. Assim é.
Chiara Lubich